Ainda parece distante a ideia de voltar a aglomerar milhares de passageiros em ambientes fechados de navios. E pela velocidade com que embarcações são conduzidas para desmonte na Turquia e na Índia, cruzeiristas devem demorar para encarar noites de comandantes ou shows milionários em teatros flutuantes.
Mas em meio a mais potente crise do setor turístico, o mercado tem assistido ao surgimento (ou fortalecimento) de viagens marítimas em versões compactas com, no máximo, 40 passageiros.
Navegar na pandemia
De saídas para praticantes de ioga, em uma das baías mais abrigadas do Brasil, a pôr do sol exclusivo no Pantanal, o mundo dos cruzeiros no Brasil nunca foi tão original como na temporada que vem pela frente.
Só para comparar, o maior navio de cruzeiro do mundo, cuja altura equivale a um prédio de 26 andares, tem capacidade para 6.680 pessoas e abriga 20 restaurantes, espalhados em 7 bairros interiores, ao longo de mais de 362 metros de comprimento. É tudo o que não precisamos em um momento de pandemia.
“Há uma carência muito grande de mini cruzeiros na costa brasileira. Vai ser algo inédito no país, pois não existem barcos privados que levem grupos pequenos, exceto quem tem seu próprio barco ou aluga um”, analisa Ana Muller.
Recentemente, sua empresa investiu R$ 300 mil na adaptação de um liveaboard (barco usado para viagens de mergulho) com estrutura para realizar mini cruzeiros no litoral de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
Saem cilindros de ar comprimido, coletes e reguladores, e entram jantares a luz de velas no deck e ecoturismo de base comunitária em destinos do sul fluminense e da Amazônia.
Inicialmente, a alta procura por pernoites em seus barcos no sul da Bahia assustaram Jacqueline Souza, cuja empresa tem sede em Caravelas e atua na região de Abrolhos.
Em plena pandemia, a empresária viu um aumento de 30% nas reservas e já tem saídas esgotadas até outubro deste ano.
“Quando as pessoas pensam em barco, imaginam aquela imensidão do mar e atividades ao ar livre”, aposta Jacqueline, que tem recusado passageiros por conta da alta demanda.
Para Ruy Carlos Tone, um dos sócios da Expedição Katerre que opera roteiros na Amazônia, desbravar os rios de barco com a família ou grupos de amigos, certamente, será uma tendência em 2021, um modo petit comité de viajar”.
Para ajudar viajantes chegados num balanço do mar, sem abrir mão dos serviços a bordo, selecionamos algumas experiências nos mares do Brasil para quem quer matar saudades das viagens marítimas, em embarcações menores e com capacidade reduzida.
PARATY / ILHA GRANDE (RJ)
Há 11 anos no mercado de liveaboard para mergulhos, o Enterprise foi adaptado para funcionar como uma pousada no mar, em mini cruzeiros de 3 dias no litoral sul fluminense.
Considerada uma das baías mais abrigadas da costa brasileira, suas águas calmas convidam para atividades como caiaque no Saco do Mamanguá e prática de Stand Up, além de trilhas e workshop de produção de artesanato com madeira caixeta, em comunidades caiçaras.
Em parceria com o DeRose Method, o Enterprise organiza também saídas para prática de ioga, com atividades como treinamento de respiração, meditação no pôr do sol e palestra sobre consciência emocional.
Embarque: Marina do Engenho (Paraty)
Cabines: 8
Passageiros: 24
Saídas: de terça a quinta e de quinta a domingo.
Preços: a partir de R$ 4.270 (por pessoa em cabine dupla e pensão completa).
PANTANAL (Mato Grosso do Sul)
A viagem inclui navegações nos rios Paraguai e Paraguai Mirim, travessias de caiaque na Serra do Amolar e passeios de botes até o Morro do Cará-Cará, complexo arqueológico no Parque Nacional do Pantanal.
Já em terra, os viajantes visitam comunidades pantaneiras com atividades como workshop de preparação de chipa, espécie de pão de queijo regional.
O barco-hotel Comodoro, equipado até com piscinas, sala de cinema e academia, faz dois roteiros anuais, em diferentes datas, de acordo com a temporada pantaneira (de fevereiro a outubro: cruzeiros de pesca esportiva; de novembro a janeiro: ecoturismo).
Embarque: Corumbá
Cabines: 15
Passageiros: 30
Saídas: 3x por mês
Preços: a partir de: R$ 4.780 (por pessoa em cabine dupla e pensão completa)
ABROLHOS (Bahia)
Embora voltados para mergulhadores embarcados, catamarãs do tipo liveaboard têm sido procurados não só por viajantes impedidos de deixar o país para mergulhar em águas internacionais, mas também para fretamentos para pequenos grupos.
Destino certeiro de baleias jubarte, entre julho e novembro, o primeiro parque nacional marinho do Brasil, a 3 horas de navegação da costa baiana, é a parada dessa embarcação equipada com cozinha completa, banheiros externos e salas de jantar e estar.
Aquele território, extremamente frágil, pode ser visitado com o acompanhamento de monitores ambientais que conduzem visitantes por uma trilha curta na Ilha Siriba, lar de aves como atobás-brancos e grazinas.
Embarque: Caravelas
Cabines: 6
Passageiros: 12
Saídas: 6x por mês, aproximadamente
Preços: a partir de R$ 1.760,00
ALTER DO CHÃO (Pará)
O turismo no Pará segue o ritmo da vazão e cheia dos rios amazônicos, mas a bordo desses clássicos barcos de madeira, concebidos pela primeira engenheira naval da Amazônia, é possível navegar na Baía do Tapajós durante todo o ano.
Com 4 roteiros diferentes, que vão de 3 a 6 dias de duração, o viajante navega por ícones fluviais da região, como os rios Tapajós, Amazonas e Negro.
A intensa programação de atividades incluem canoagem em igarapés, visitas a comunidades ribeirinhas com vivências como oficinas de tingimento artesanal, trilha na FLONA (Floresta Nacional) e visita ao Canal do Jari, conhecido pelo cenográfico jardim de vitórias-régias da simpática Dulce.
Embarque: Alter do Chão
Cabines: 9 e 12
Passageiros: de 26 a 34
Saídas: 1x por mês
Preço: R$ 6.900 (por pessoa em cabine dupla e serviços inclusos como transfer do aeroporto de Santarém, pensão completa e bebidas alcoólicas)
AMAZÔNIA (Amazonas)
Essa empresa de ecoturismo com base no Rio Negro, no Amazonas, realiza roteiros ultra exclusivos com atividades como navegação por Anavilhanas, um dos maiores arquipélagos fluviais do mundo, no baixo Rio Negro; e trilha até as Grutas do Madadá, formações rochosas milenares.
Um dos destaques é o Parque Nacional do Jaú, onde os viajantes fazem paradas para banhos em cachoeiras, visitas às ruínas de Airão Velho e encaram a trilha até uma samaúma gigante, conhecida como a “mãe das árvores”.
Em barcos regionais de madeira, porém com serviços a bordo, a proposta dessas expedições é proporcionar a experiência de uma viagem em embarcações de linha como fazem os moradores locais.
Embarque: Novo Airão (a 3 horas de carro de Manaus, aproximadamente)
Cabines: 8
Passageiros: 16
Saídas: semanais
Valor: a partir de R$ 5.995 (por pessoa em cabine dupla)